Pesquise no Blog

Relatos de um Turista Mocorongo em Santarém

areasalterdochoze

Vista aérea da Praia de Alter do Chão 

O DESEMBARGUE EM SANTARÉM

Sete anos depois estou de novo frente a frente com minha terra querida de Santarém. É mais ou menos sete e vinte da noite, as luzes da cidade estão iluminando-a e refletem no rio um brilho ondulado. A essa hora não é possível ver o encontro das águas do rio Amazonas de cor amarelo barrenta com o rio Tapajós de cor azul intenso, talvez um dos mais belos encontros de águas que já vi na vida. Sai de Santarém que tem esse encontro lindo entre os dois rios na sua frente e uma padroeira da qual sou devoto, Nossa Senhora da Conceição, e fui morar em Manaus, que tem um lindo encontro das águas também em sua frente e a mesma Santa por padroeira. Coincidências que a vida me presenteou.

Avistamos muitos barcos ancorados em toda orla na frente da cidade. Os postos fluviais de abastecimentos de combustíveis que ficam montados sobre balsas flutuantes são uma peculiaridade em nossas cidades amazônicas. A parada na balsa da alfândega marítima é obrigatória antes de ancorarmos, mas logo somo liberados desta rotina que verifica a segurança e se há excesso de passageiros e cargas na embarcação. Isso é feito tanto na chegada quanto na saída, mas sabemos que alguns poucos ainda driblam esta norma  embarcando cargas e pessoas no meio do rio de uma outra embarcação, depois de ter passado pela fiscalização marítima. Claro que nos dias de hoje isso é muito pouco comum, antes já foi uma rotina. Rotina essa que vem sendo diminuída pela melhor fiscalização e pela própria conscientização dos donos de embarcações que hoje tem uma maior responsabilidade pela segurança daqueles que escolhem viajar pelos rios amazônicos. Também contribui para essa diminuição a denúncia dos passageiros que hoje em dia são muitos mais existentes com sua comodidade e segurança.

Me espanta uma grande estrutura localizada aonde antes era a praia de Vera Paz na frente da cidade já próxima ao porto das companhia das docas do Pará. Já havia lido muito sobre a confusão que este terminal graneleiro de embargue de soja vinha dando entre seus defensores e seus adversários. Houve a completa tomada da área da praia que antes era um recanto de lazer de alguns santarenos, que ali iam se divertir e tomar banho de rio. Com certeza uma boa briga. Lembrei que ali próximo, um pouco à direita de minha visão, todos os anos no verão formava-se uma área chamada de coroa de areia no meio do rio. Hoje em dia dizem que este fenômeno não mais ocorre, mas no passado a coroa de areia já foi um roteiro certo dos banhistas santarenos. Assim, eram duas as perdas que eu podia constatar naquele instante: A praia de Vera Paz, tomada pela vinda do progresso advindo das plantações de soja no Planalto santareno e a praia da Coroa de Areia, perdida para a própria natureza que com suas razões ocultas decidira não mais nos brindar com tamanha beleza -Talvez um aviso- .

O porto da CARGIL, como era chamada a grande estrutura a minha frente, era realmente impressionante. O que geraria de riquezas para Santarém, com certeza o futuro nos mostraria.

Ancoramos no porto das Docas do Pará. Chamado simplesmente de docas. É comum agente dizer que “ancorou lá nas docas” em Santarém. Hoje em dia não é mais permitida a ancoração no calçadão à frente da cidade. Este se estende desde a praça de São Sebastião até as docas, por toda extensão da avenida Tapajó, bem na frente da cidade. Uma área muito bonita de se admirada. Falarei desta mais tarde. Pois bem, no passado era desde calçadão que as embarcações saiam. Já houve um fluxo muito grande de barcos que iam para as regiões de garimpo no alto tapajós no passado, isso trouxe conseqüência danosa a frente da cidade e ao próprio rio. Hoje isso estava remediado e a renovação vinha aos poucos sendo estabelecida.

Houve um tempo que devido os dejetos dos garimpos o rio Tapajós deixou de ser azulado e ganhou um tom escuro. Isso devido o grande acumulo de barro em suas águas causado pelas dragas nos garimpo. Dragas são bombas com jatos de água que destroem os barrancos para ser encontrado o ouro, mas que geravam uma lama que era jogada nos igarapés e rios que formam o rio Tapajós. Hoje em dia ele voltou a ser azul novamente, pois a extração de ouro se modernizou e também diminuiu bastante em sua foz.

Após nossa ancoração. Fomos todos desembarcando vagarosamente. As nossas malas haviam sido identificadas e colocadas no porão da lancha. Após descermos ficamos esperando as bagagens. Já com todas as bagagens em mãos seguimos pela rampa de acesso a parte mais alta do porto onde poderíamos pegar um táxi. Pegamos o táxi de uma senhora e já fui indicando o destino, travessa Agripina de Matos próximo ao trevo do aeroporto. A motorista me corrigiu e disse, “sei, próximo ali do viaduto”. Então lembrei, desta outra modernidade. Sim, um viaduto em Santarém. Assunto para um outro momento. Seguimos direto pela avenida Cuiabá, a famosa BR-163. Esta termina exatamente nas docas de Santarém. No encontro desta com a avenida tapajós, existe o sindicato dos estivadores, onde todos os anos no dia da procissão do círio da Conceição acontece uma grande queima de fogos de artifícios que já é tradição neste dia. Um instante de emoção que sinto. Na esquina desta com a avenida Mendonça Furtado, que corta Santarém no sentido leste-oeste, parece que o tempo parou e volto aos anos que passava ali todos os dias dentro do ônibus circular vindo da escola São Luiz de Gonzaga. Até um buraco que havia parece ainda ser o mesmo que hoje há na pista próximo a sarjeta. Passamos pela esquina da avenida Borges Leal e logo após pela frente do Quartel da Polícia Militar de Santarém. Já nas proximidades do antigo trevo avisto a grande estrutura que chamam de viaduto. A Rua João XXIII continua do mesmo jeito. Toda esburacada e com a piçarra uniforme ainda gerando muita poeira avermelhada. Na esquina desta com a travessa Agripina de Matos a mesma cena do passado de 23 anos atrás. Parece que nesta parte de Santarém o asfalto é algo impossível. Acho que o povo se acostumou com essa situação. Dizem que pelos menos neste ponto haverá o asfaltamento devido a construção do viaduto. Fazemos a curva e passamos em frente a Boite da Mariazinha. Pronto, estamos na frente de minha casa em Santarém. Fora a surpresa que fizemos, pois não avisei que iria chegar, temos a emoção de estar na casa aonde passei os melhores anos de minha infância e juventude. Um sopro de muitas lembranças e saudades me bate ao peito. Hora de abraços, reencontros e matar saudades.

Um comentário:

Robert Glinbert disse...

Ola tudo bem!
voce estudou no colegio sao luiz de gonzaga durante qual ano?