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Presidenta ou Presidente Dilma?

Abaixo texto de meu irmão, Francisco Martins Teixeira, Pedagogo; comentando um e-mail sobre essa discussão acerca do termo PRESIDENTA.

 

Prezados amigos e amigas,

É interessante ver como os brios machistas da sociedade brasileira se mantem apostos para execrar os menores sinais de perda de sua cambaleante hegemonia.

Recebi o e-mail abaixo de um amigo e confesso que não resisti fazer um breve comentário sobre essa nota.

Bom, de pronto afirmo que não sou nenhum especialista no vernáculo da língua portuguesa, mas sinceramente penso que o que menos

importa aqui é o vernáculo, mas sim o se tenta esconder atrás do mesmo.

Dito de outra forma: por que tanto assombro, evocação das normas da língua portuguesa, etc, etc..., apenas pelo fato da PRESIDENTA Dilma ter se manifestado

publicamente afirmando preferir ser chamada de PRESIDENTA?

Alias e em tempo uma observação sobre a propalada observação do vernáculo: a Academia Brasileira de Letras que, imagino eu, deve conhecer bem as ditas normas cultas da

Língua Portuguesa, já disse que o termo PRESIDENTA é admitido sem problema algum.

Voltando a questão: por que o assombro?

Vou dar minha opinião: acredito que a resposta passa pelo campo do medo. Medo que o feminino se revele em sua força, se afirme nela com tal. Afinal e infelizmente, ainda é comum

caracterizar as mulheres fortes (não necessariamente em força física) e destemidas como sendo mulheres "macho". As próprias mulheres, algumas vezes, assim se caracterizam para afirmar sua coragem, vitórias e força.

Acaba que essa postura é uma "mão na roda" para manter a postura de dominação machista da sociedade.

Convencionou-se, ao longo do tempo, para denominar o ser humano como espécie dizer: "O homem" é filho de Deus; "O homem é o único animal dotado de inteligência"; "Jesus, o Filho do Homem" e por ai se vão outros exemplos, dentre os quais destaco mais um. Ora, ainda é comum ouvir mulheres que são chefas de família dizerem: "aqui eu sou o homem da casa".

No cenário da academia (universidade, faculdades) a coisa pega fogo: se num trabalho cientifico o acadêmico escreve ou mesmo se manifesta verbalmente: "... o homem e a mulher...". É bem provável que o professor ou professora orientem que basta escrever ou falar "homem", porque o termo "homem" já contempla a mulher.

E para botar mais pimenta nesse angu, o que dizer da afirmação sexual que diz que é o homem que come a mulher. Quem come tem o poder sobre a comida, não é mesmo?

Ora, vamos olhar com mais atenção o ato em si. OLHARAM?! Ah! Surpresos e surpressas! Pois é meus caros companheiros homens, nós somos a comida e vocês mulhers nos devoram.

São vocês mulheres que comem nós - os homens e quando terminam estão fortes, enquanto nós homens, como diz Rubem Alves, ficamos tal qual o bagaço da laranja e vai um tempo para que possamos ser comida de novo.

Então, para concluir. É por essas e outras inumeras razões que penso que a discussão entre chamar Presidente ou Presidenta, não tem na verdade nada que ver com semântica, "zelo" ao vernáculo e os cambau. Tem na verdade haver com MEDO dos homens (e até de algumas mulheres) que as mulheres afirmem a sua CAPACIDADE como femininas que são.

A Presidenta Dilma, ao manifestar-se publicamente, afirmando a escolha em ser tratada oficialmente (e extra oficialmente também) como PRESIDENTA, além de ter o lastro positivo do vernáculo, tem, sobretudo e acima de tudo, o lastro do FEMININO COMO SER CAPAZ, que precisa se libertar das amarras e da obrigatóriedade dos interesses machistas do vernáculo, de afirmar sua força no masculino.

VIVA AS MULHERES DO MUNDO, VIVA AS MULHERES DO BRASIL, viva todas todas as mulheres PRESIDENTAS do lar e da sua própria vida...

Viva todas as mulheres crianças, meninas, adolescentes e adultas do Brasil, que com a chegada da primeira mulher a Presidencia da República podem agora dizer:

Sim, nós mulheres podemos!

Para mim, a PRESIDENTA Dilma foi muito feliz e está certíssima em sua escolha, independente de qualquer outra avaliação que venha sofrer o seu governo.

 

Brasília- DF, 11 de março de 2011

Francisco Martins Teixeira

Rede de Educação Cidadã

2 comentários:

Stela disse...

Xico, entrei aqui para procurar opiniões de estudiosos da língua portuguesa para enviar a alguém que me mandou um texto machista, ignorante e grosseiro sobre a postura da Presidenta Dilma em relação a esta questão. Deparei-me, então, com o teu texto extremamente lúcido e bonito. Como usuária da internet, agradeço a oportunidade de lê-lo. Como mulher, valorizo a defesa da nossa condição feminina. Como educadora, parabenizo a forma clara, elegante, provocadora no sentido da reflexão, e, consequentemente pedagógica como você tratou esta questão. Abraço. Stela

Francisco Teixeira Xico Branco disse...

Prezada Stela, na verdade o texto é de um amigo de meu Irmão, que tem o mesmo nome que eu, Francisco. Meu irmão e minha irmã são pedagogos. Quis postar esse texto por também achá-lo atual e muito bom sobre esse tema. Creio que o melhor que li até então. Grato pela visita e volte sempre.