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O Encontro - Conto

De Quixeré ate lá ainda tinham alguns quilômetros. Saíra de Limoeiro do Norte as nove e logo chegara ao bar por sob a ponte do rio na CE-209. Parou a moto. Sentou-se a mesa e pediu uma cerveja gelada. O sol escaldante convidava a um banho de rio, que tava com boa água aquela época do ano. Era mês de abril e as chuvas tinham caído com gosto. Ela o esperava perto de Lagoinha. Seria um mergulho rápido.

Depois dos primeiros goles, seguiu até a beira do rio e tirando a camisa, colocou-a sobre uma ruma de areia. De um salto mergulhou na correnteza forte e nadou até certo ponto. Retornou a margem e saindo da água sentiu o vento, agora refrescante, castigar seu corpo. Voltou à mesa. Tomou o resto de cerveja e após pagar a conta, saiu em sua motocicleta. Passaria ainda na cidade para ver as pessoas e depois seguiria até o encontro dela.

Dali até Quixeré era uma curva. Cidade pequena do interior do Ceará, mas bem aconchegante. De povo simples, porém ordeiro e receptivo. Encostou a moto num barzinho perto da feira. Desceu. Olhou para todos ali, que também o olhavam. Sabiam que num era daquelas bandas. Um sulista numa cidadezinha daquelas sempre chamava a atenção. Mal sabiam eles que ele era filho daquelas terras. Nascido em Lagoinha. Filho de fazendeiro quixerense e uma sulista. Dado para uma família do sul, acabou puxando os traços da mãe biologia, uma gaúcha de Porto Alegre que fora aventurar a vida como dama da noite naquelas bandas. De resto pouco sabia. A família que o adotado ainda com três anos de idade era de São Paulo, do Interior. Moravam em Atibaia, onde tinham um sítio de campo que alugavam para eventos e criavam cavalos de corrida. Estudou. Virou engenheiro e agora iria encontrá-la pela primeira vez.

Falou com uma pessoa próxima. Ao dizer de sua história, logo o rapaz sorriu e se prontificou a levá-lo ate Lagoinha. Subiram cada um em suas motos e se despedindo saíram estrada afora. Pegaram um caminho alternativo e logo estavam subindo a serra. De lá de cima podia se ver o vasto campo verde. Ora pelas carnaúbas, ora pela grama e vegetação baixa típica daquela região. Uma bela vista. Tirou algumas fotos e saíram por entre veredas de mato. Muita lama e muito atoleiro, mas as motos transpunham com facilidade. Ele estava ansioso para encontrá-la. Cada vez mais seu coração batia forte. Chegando no alto, passaram na frente de uma pequena igrejinha. Ele sem benzeu e agradeceu por estar ali. Seguindo um pouco mais, estavam em Lagoinha. Pararam num bar e ao pedirem uma cerveja gelada, foram rodeados de meninas, que vinham lhes dar boa vinda e ver se ganhavam o carinho daquele homem de fora. Lógico para ganhar também algum trocado. Uma trouxe até um álbum com fotos dela em poses bem descomportadas. Uma bela mulher. Mas não eram elas que ele buscava. Chamou seu companheiro. Pagaram a bebida e saíram. Agora iriam enfim, até onde ele desejava.

Pelo caminho de terra e por entre pés de Jurema e outra plantas, eles seguiam nas motos. Passaram por uma estradinha e por algumas cancelas, que iam abrindo sem descer das motos. Em quinze minutos estavam num pequeno córrego que anunciava que ela estava logo ali próxima. Pararam as motos. O colega guia que ele arranjara em Quixeré mostrou um caminho por entre pedras. Eles desceram com cuidado. Parado e estatelado de emoção, ele a viu. Ela linda mesmo como disseram. A água saia por dentro das pedras e caia no solo, fora ali que ele tinha sido concebido vinte e nove anos atrás. Naquela queda d´água, num enlace de amor entre sua mãe e seu pai, ele fora gerado. Sua missão estava cumprida, ela estava ali diante de seus olhos feito um presente há muito desejado. Enquanto a água caia e pessoas se banhavam alegremente, ele deixava cair uma lágrima, de tanta ou mais alegria sentida.

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