Pesquise no Blog

Contos do Xico

Me Conta o Que Eu te Conto

- Poxa, obrigado! Você me fez tirar dez naquela prova de ontem. Nem te conheço e já te adoro! -Disse à menina que viera correndo ao seu encontro, e que saia da aula naquele instante.

Pedrinho ficou parado. Perplexo! Ainda com as pernas bambas pelo abraço e beijo recebidos; e logo da linda menina que ele tanto admirava. Enquanto ela se distanciava sorrindo, ele pensava: - Que prova? Eu hem, ela deve ta pirada das idéias.

Era hora de ir pra casa. Tinha que passar no mercadinho e comprar o almoço. Sua mãe dera o dinheiro contato, dessa vez ele não poderia salvar nem o da bala de chocolate. Caminhou pela estradinha de terra. O cheiro da manhã dava lugar ao calor da tarde e a poeira, suspensa no ar, fizera com que ele buscasse as calçadas próximas.

Pronto! O mercadinho. Entrou. Pegou uma sacola. Duas calabresas, arroz, pimentão e cenoura. Eram as compras do dia. No caixa, seu Antônio sorriu, olhou para ele e disse:

- Menino danado! Como você fez aquilo? E olha que deu certo mesmo, deu macaco na cabeça moleque. Vai leva isso pra sua mãe, e diz que eu que mandei. Ah e pega aqui sua bala de chocolate.

- Mas Seu Antônio o que eu fiz? Num sei do que o senhor ta falando não!

- Ora! Deixa pra lá, essas coisas de sonho agente não entende mesmo né?

Lá ia Pedrinho mais confuso ainda. Primeiro a menina, agora Seu Antônio. Algo tava acontecendo de estranho e ele não sabia o que era. Será que as pessoas tinham combinado de pregar uma peça nele devido suas travessuras. O aniversario seria na semana que vem. Vai que decidiram aprontar com ele...

Assim seguiu pensativo no caminho de casa. Ao chegar, deu as compras para a mãe e foi dizendo:

- Mãe o seu Antônio disse que num era pra pagar não, que ele que mandou isso. Nem bem terminara de falar e sua mãe o pegou pelo braço esbravejando.

- Menino o que você aprontou agora. Meu Deus do céu, num vai me dizer que você pegou essas coisas sem pagar. Pedro, ai meu filho, o que eu faço com você? Vamos lá na venda agora mesmo.

Quando ela estava pegando as coisas para sair, um dos vizinhos entra na casa aos berros.

-Pedrinho! Dona Maria! Corram! O filho do Seu Manel ia se afogando no rio. Salvaram ele agorinha e estão dizendo que foi o Pedrinho que avisou do ocorrido.

- Eu, ta doido é seu Zé. Eu tava na aula e depois fui ao mercadinho. Né mãe?

- Olha Pedro, nem eu sei onde você estava. Isso num ta me cheirando bem.

- Mãe, eu juro que foi isso. Mas ta tudo estranho hoje mesmo...

Pedrinho disse isso e saiu correndo pelo quintal. Pulou a pequena cerca e seguiu para o rio. De longe avistou o montueiro de gente arrodeando o pequeno menino no chão. Quando chegou próximo, seu Manuel correu e o abraçou sorridente.

- Ai Pedrinho, você salvou o meu filho! Se não fosse você nem sei o que seria de mim. Você me contou o que ia acontecer. Obrigado menino. Você é um anjo de Deus.

Todos olharam para Pedrinho, agradecidos. Agora que ele não entendia mais nada mesmo. Contara o que, como? Será que ele tava ficando louco, ou era os outros que estavam pirados no pequeno vilarejo. Quando ia tentando se afastar, outros já chegavam e o colocavam nos braços.

- Ele apareceu no meu sonho, disse pra eu estudar os verbos! – Gritou a menina do colégio.

- E no meu também! Me fez ganhar cem reais no bicho. – Disse seu Antônio do mercado.

- Ora, pois foi assim que salvei meu filho. Tava lendo meu jornal lá no alpendre de casa e agarrei no sono. De repente ele me apareceu num sonho dizendo que meu filho tava aqui no rio tentando pegar a canoa e ela virava. Acordei assustado e não o vi em casa. Então desci correndo pra cá e o avistei se debatendo na água. Foi um milagre.

Enquanto Pedrinho tentava entender. Sua mãe o abraçava com olhos cheios d´água. Muitos o tocavam e levavam as mãos ao céu. Outros tantos se ajoelhavam aos seus pés e repetiam:

- Milagre, milagre... Ele é milagreiro!

Nenhum comentário: