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DRAMATIZAÇÃO

TÍTULO: POLÍTICA e POLITICAGEM

AUTOR: XICO BRANCO (Maio, 1997)

PERSONAGENS:

  1. Zé ( Comunitário 1 )
  2. João ( Comunitário 2 )
  3. Dr. Fulaninho ( Político )
  4. Osvaldão ( Assessor e Segurança do Político )
  5. Mendigo
  6. Narrador.

1º ATO:

Cenário: Uma mesa onde dois amigos de uma comunidade conversam na frente de uma casa. Perto deles sentado numa suposta calçada, um mendigo.

NARRADOR:

( Narrado fala andando pelo cenário onde algumas pessoas estão na frente de um bar em uma pequena rua…)

- Senhora e senhores esta é uma pequena história que ilustrará de forma rápida e cômica, a realidade da maioria de nossos políticos e de como nós, o povo, é tratado por eles.

Nossos dois amigos comunitários, o Zé e o João, estão conversando sobre o período eleitoral…

( Cena aberta, dois amigos sentados na frente de um bar )

Zé:

- É amigo João, mais uma vez agente está em época de campanha. Fico triste porque agente já mora aqui na comunidade há cinco anos e ainda num temos nada de bom. Como diz o pessoal, cachorro não, mais gato aqui é só olhar pra cima.

João:

- Pois é, eu já num quero mais nem saber de política sabe...esse negócio já me dar é raiva...hum...falando nisso, olha quem vem lá com seu puxa-saco do lado, num é o Dr....como é mesmo o nome dele Zé?

Zé:

- Ora se num é o Dr. Fulaninho. Esse ai é um que teve aqui quatro anos atrás. Lembro bem. Até ganhei um ventilador no bingo que ele fez ali naquela esquina onde hoje tem aquela vala enorme. O ventilador queimou logo depois que ele ganhou..Acho que até o ventilador é programado pra enganar agente.

João:

- Ora..vamo ver o que ele vem dizendo agora...olha ele ta vindo aqui com agente Zé.

( Um mendigo que ta sentado próximo dos dois amigos ao ver o politico passando tenta arrumar um trocado)

Mendigo:

- Dôtor me der uma ajudinha pelo amor de Deus?

Político:

- Meu amigo ( apertando a mão do mendigo ). Ora meu grande amigo...é por isso que eu estou aqui. Claro...Osvaldão dar um santinho pro amigo aqui votar em mim...

Mendigo:

- Mas doutor, eu pedi uma esmola!!

Político:

- Claro ! Claro! Toma aqui meu amigo ( E entrega uma nota de R$ 1,00 ao mendigo ). E num esqueça vote em mim amigo..vote em mim que prometo lhe conseguir uma cadeira de roda novinha viu!!!

Mendigo:

Mas dotor eu sou é pobre num sou aleijado não…

Político: ( sem dar atenção ao pobre homem vai rumo aos dois amigos que observam tudo…)

- Meus amigos!!! Oh meus amigos ( estendendo a mão ) apertem a minha mão. Como estão todos?

Zé:

- Sabe dôtor, agente ta na pior, o senhor por acaso viu as ruas como estão.

Político:

- Pois é meu amigo. Tive que deixar minha L200 lá em cima que a coisa aqui ta preta. Mas eu estou aqui pra resolver tudo. É só vocês me reelegerem que agente resolve as coisas na hora.

João:

- Mas dotor, o senhor falou isso na última vez que teve aqui, lembra?

Político:

- Ora amigo. Vc sabe como são as coisas, quatro anos agente quase num dar pra fazer nada. Eu fiz muitos ofícios mas o governo é que num fez. Mas prometo que agora eu vou poder fazer porque sou amigo íntimo do prefeito e ele já me garantiu que vai ajeitar tudo aqui depois da eleição. Podem acreditar. Ah! E peguem aqui uma senha pra pegar uma sexta básica pra cada um de vocês...é só ir lá no comitê e levar o seu título que recebe na hora.

NARRADOR: ( Novamente entra e vai andando e falando enquanto as pessoas na cena continuam simulando que estão a conversar )

Agora nosso político ta onde gosta em época de eleição, no meio do povo pronto para dar mais um bote…

(o político se afasta e seu capanga tira uma garrafinha de álcool e entrega um lenço para o dôtor limpar as mãos. Enquanto isso o Zé comenta:)

Zé:

É...quatro anos num dar pra fazer nada pelo povo, mas dar pra comprar um carrão daqueles ( fala e aponta ).

NARRADOR: ( Agora parado na lateral esquerda do palco, a frente, enquanto todos saem de cena para novo ato  e a cortina fecha)

- È amigos  esta é uma das milhares de situações que ocorrem em época de eleição. E o pior de tudo é que esses políticos sempre dão um jeitinho de enganar o povo. Quando eles percebem que numa certa comunidade já não podem mais enganar, mudam-se para outra e assim agente acaba caindo na lábia deles. Vejamos agora, passados alguns dias após a eleição e sabendo que o Dr. Fulaninho foi mais uma vez eleito, apesar de não terem votado nele, o pobre do Zé e do João vão até seu gabinete pra ver se conseguem alguma bem-feitoria pra comunidade deles, pois sabem que muitos pessoas de lá votaram no Dr. Fulaninho e acreditaram em suas promessas de melhorias.

( Abre-se a cortina, escritório do politico com segurança parado na porta e os dois amigos chegam…)

Zé:

- Bom dia Seu Osvaldão. Agente veio falar com o Dr. Fulaninho.

Osvaldão:

- Vocês marcaram hora com o Doutor??

João:

- É que ele disse que agente podia vir aqui se ele fosse reeleito pra poder falar com o prefeito sobre nossa comunidade sabe!

Zé:

- É isso mesmo. Agente só ta vindo aqui porque ele prometeu!!

Osvaldão: ( sem dar muita bola ao dois amigos)

- Olha eu vou ver se ele pode receber vocês. Sabe como é o Doutor ta muito ocupado. Mas um momento.

( entra na sala do dotor)

- Dotor tem uns morador ai de uma tal comunidade querendo falar com o senhor ( fala coçando a cabeça meio desajeitado).

Político: ( sem nem perceber o Osvaldão, fala ao celular)

- Como é que é Alfredo?? 300 mil num iate. Mas eu ainda num peguei aquela grana da ponte que a empreiteira de minha mulher vai fazer lá no riachão. Prometemos fazer uma de concreto, mas agente alega que aumentou tudo e faz uma de sarrafo mesmo...assim ela cai e agente vai ter que fazer de novo...( Rindo )...Vou pegar a grana esta semana e ai compro o iate mas só pago 290 mil. Olha eu vou passar ai na Marina Tauá pra ver o Iate mais tarde. Até mais!!!( Desliga ). Diz Osvaldão, quê que tu quer??

Osvaldão:

- Dôtor, tem ai uns maltrapilhos dizendo que querem falar com o senhor sobre uma comunidade ai que o senhor prometeu arrumar.

Político: ( levantando-se e acendendo um charuto)

- Osvaldão tu ta ficando besta é? Pra que eu te pago? Olha eu vou ter que sair agora pra ver o iate que tô querendo comprar. Vá lá e invente qualquer coisa. Diga que eu tô no telefone com o Governador...der seu jeito. Num vou receber ninguém...ora, só o me que faltava agora. Já pensou se recebo essa gente...daqui há pouco me gabinete vira uma zona de pedintes. Sai, sai...!!!! ( fala isso espulsando o segurança da sala)

 

Osvaldão: ( sai e vai falar com os dois amigos novamente)

- É amigos. Fiz de tudo mas o Doutor ta muito ocupado hoje. E vai ter que sair agora pra falar com o Prefeito sobre os problemas das comunidades e me garantiu que a de vocês é questão de honra pra ele. O Doutor falou pode crer que ta falado, é dito e feito.

( diz isso com um largo sorriso nos lábios e já indicando  a porta de saída aos dois )

Zé:

- Mas é coisa rápida. Agente só que dar uma palavrinha com ele.

Osvaldão:

- Sinto muito mesmo...mas num posso fazer nada. Até logo amigos.

( os dois saem e andando pelo palco indo embora comentam)

João:

- Num te falei Zé. Esse ai que é que agente se lasque. Por isso que eu acho que essa coisa de política num tem solução. È tudo pilantra. Depois que se elege..já era, some.

Zé:

- Sabe João. Acho que a culpa é nossa. Se agente se unisse mais como comunidade e ao invés de votar num monte de gente que aparece só em época de campanha, agente podia votar em gente da gente e ter mais proximidade pra poder cobrar pelos nossos direitos.

João:

- É Zé tai uma boa idéia, mas quando que agente vai fazer isso acontecer…

( fala mostrando descrença em suas próprias palavras e olhando pra trás…

( fecha se a cortina )

FIM

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