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Jurupari - Crônica de uma passagem.

Coincidências a parte. Já ouvi muito falar no meio teatral que a Peça Jurupari, do brilhante e genial escritor amazonense Márcio Souza,  não pode ser encenada porque seria um texto maldito. Jurupari está fortemente ligado aos indigenas amazônicos. É um mito envolto em crenças e tradições muito fortes.

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A Lenda:

Segundo a lenda, Ceuci descansava à sombra da árvore do bem e do mal, quando avistou seus frutos grandes e maduros. Não resistindo, apanhou e comeu uma de suas frutas e o seu caldo escorrendo pelo seu corpo nu alcançou o meio de suas coxas.

Meses após, revelou-se uma gravidez que encheu de indignação toda a comunidade indígena, O Conselho de Velhos, achou por bem, puni-la com o desterro.

Ceuci teve seu filho muito longe da aldeia de deu-lhe o nome de Jurupari, futuro legislador, que veio mandado pelo sol para reformar os costumes da terra e também encontrar nela uma mulher perfeita com quem o sol pudesse casar.

Quando nasceu Jurupari, nasceu também o silêncio, o quiriri sombrio e religioso das florestas e dos lagos amazônicos.

Já ao sair do ventre de sua mãe, falou-lhe:

-"Não tenha receio mãe: eu venho de Tupã, que é meu pai, com a missão de reformar os costumes de teus irmãos. Venho trazer a lei do patriarcado e o instituto do segredo, que ainda não existe nas tabas:  foi adequado, por isso mesmo, o nome que me deste, Jurupari. Boca fechada, sigilo!".

Mais que é Jurupari?

Jurupari ou Izí é um Grande Espírito, que servia de guia e protegia os índios, particularmente aos homens.  As leis do Jurupari, que significa "boca fechada" (iurú= boca e pari=tapume), impunham silêncio total sobre todos os segredos do oculto. O pai deveria matar o filho, se este descobrisse qualquer segredo das festas sagradas antes de iniciado, tão rígidas eram tais regras.

Fonte: Texto de Rosane Volpatto. Clique Aqui Para Saber Mais

As leis de Jurupari:

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Bem, mas voltando as coincidências citadas no início, ontem tive a oportunidade de vivenciar uma cena de Jurupari, Dirigida pelo premiado Diretor Amazonense, Douglas Rodrigues, a cena é a sequinte:

ATO PRIMEIRO

CENA PRIMEIRA

Na escuridão da palco, a luz vai crescendo lentamente, amarelada, pálida, doentia. Uma pilha de cadáveres é notada, são corpos masculinos. Em torno, estáticas, algumas mulheres observam. No proscênio, uma mulher em trajes cerimoniais do alto rio Negro fala para o público.

MULHER - Espectadores! Vocês irão assistir a uma versão em língua portuguesas da legenda de Jurupari. Como o teatro brasileiro vem se debatendo no caminho sem saída do desespero e da repressão, eu vos convido a abandonar os preconceitos e mesmo, o espirito de curiosidade , para aceitarem esse drama como uma cultura desprezada e não como folclore domesticado. Quatrocentos anos de invasão branca não foram suficientes para apagar os traços do canto jurupari. Reviver este canto é restituir o que já estava reduzido a edições etnográficas de circulação restrita. Eis o drama: no princípio do mundo uma terrível epidemia caiu sobre os habitantes da serra do Tenui e matou apenas os machos. Escaparam uns poucos velhos e um antigo Pajé (a luz destaca o velho pajé sentado em seu banco de madeira). As mulheres, por não verem nas imediações um pajé que lhes desse o que precisavam, desesperaram. Violando o costume, as mulheres julgaram a ciência do velho pajé impotente e não o consultaram. Consternadas elas reuniram-se para escapar ao destino que ultrapassava suas forças abatidas.

Um grito imenso, cortante, aterrador, escapa da garganta daquelas mulheres petrificadas. Uma delas tenta inutilmente, com um força já debilitada pelo sofrimento, arrastar o cadáver do amante. Todos os movimentos são lentos de uma maneira obssessiva.

Fonte: Site TESC - Teatro Experimental do SESC do Amazonas

Nesta cena, fui um dos índios mortos ao chão. A intensidade da narrativa e dos gritos desesperados da índia, foram algo de uma carga emocional muito forte. Isso sem cenário, sem som e sem ensaio...apenas silêncio, quebrado pela narrativa e pelos gritos citados.

Todos comentaram que sentiram uma emoção diferente, alguns dos "deitados", se viram em uma floresta densa e triste. Outros com seus corpos podres e se desfazendo aos pedaços. Eu me vi numa floresta de céu amarelado; árvores movidas por um vento frio e envoltas numa névoa, e onde os gritos pareciam sair da próprias árvores, como súplicas de mulheres movidas por uma dor muito intensa.

Os acontecimentos abaixo ocorreram após a conclusão da cena, e seguiram:

Logo após, caiu uma forte tempestade. Uma das cortinas enrolou-se em um dos ventiladores e foi preciso desligarem o mesmo para evitar algo mais grave. Ninguém mais conseguia ouvir uns aos outros dado o barulho da chuva. Logo ontem achei de ir sem meu carro. Esperei bastante tempo para a chuva passar. Como não passava, assim que diminuiu segui para a parada de ônibus. Quando ia chegando nesta, o ônibus passou e o perdi. Na parada escolhida havia uma fedentina infernal de fezes e urina. Decidimos descer até a parada próxima, isso na chuva. Me molhei todo. O ônibus foi passar já eram mais de dez horas da noite, mais de uma hora de espera. Na avenida Getúlio Vargas ficamos mais de meia hora em um engarrafamento. O ônibus estava cheio de baratas e por mais de uma vez tivemos que trocar de lugar, pois havia baratas caindo sobre agente. Começou a dar em mim e minha amiga, uma forte dor de cabeça. Fui chegar em casa mais de onze horas, ainda debaixo de uma forte chuva, com a cabeça doendo e o nariz entupido.

Se fosse um cara supesticioso, atribuíria isso a maldição da peça de Jurupari. Mas como não sou, atríbuo ao acaso e a minhas decissões, e deixo para você leitor, o peso da dúvida!

 

CONHEÇA AS LENDAS AMAZÔNICAS!

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