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Crônica da Semana

A Mulher de Branco
(mais uma de série: Chão de Fábrica.)
No meu primeiro emprego no distrito industrial de Manaus. Conhecido até a década de noventa por Zona Franca e atualmente denominado de PIM, pólo industrial (incentivado) de Manaus, tive contato com a estória que vou relatar a seguir. Seria apenas mais um caso, se depois de sair desde emprego e nos outros dois que se seguiram, eu não tivesse ouvido estórias semelhantes. As pessoas que trabalham nas fábricas comumente comentam sobre casos de aparições nos banheiros ou em algum outro local, de seres fantasmagóricos. No banheiro feminino, principalmente no terceiro turno, após a meia noite, a mulher de branco era uma aparição comum a quase todas as empresas. Casos de correria banheiro afora ou de funcionários que ficaram pálidos e até desmaiaram com esta visão, não era difícil de encontrar. Ouvi relatos muito ricos em detalhes, de mais de uma pessoa, antes de decidir escrever esta crônica.
Certa vez numa fábrica, das tantas que aqui existem, um grupo de amigas dirigiram-se ao banheiro para dar aquela dormidinha básica depois da janta. Coisa de 30 minutos de cochilo. Ao chegarem, cada uma foi colocando um pedaço de papelão no chão, que elas já deixavam estrategicamente guardado por detrás dos armários, e ali improvisavam uma cama rudimentar. Para facilitar o sono, era comum apagarem a luz, assim dava aquela sensação de quarto de dormir. Fora o mau cheiro de alguns dias; o sono até que era uma boa forma de repor energias e relaxar antes do trabalho continuar. Nesse dia, porém, logo ao apagarem a luz, ouviram um barulho estranho de alguém arrastando um pedaço de papelão no chão.
- Maria te aquieta. Deixa agente descansar! Disse Rosângela.
Maria era uma amiga daquelas que levava culpa de tudo que ocorria dado seu jeito moleque e travesso de sempre estar pregando peças nas amigas de trabalho.
Pouco tempo depois o mesmo barulho recomeçou e um vento frio invadiu o banheiro quando a porta pareceu abrir rapidamente, dando a impressão que alguém ali adentrara.
Poxa! Deixem agente descansar. Gritou outra das amigas. Que saco!
No repentino silêncio que se fez, Rosângela estranhou, pois Maria sempre dava o ar da graça quando era pega nas suas brincadeiras.
-Hum! Vai ver que ela dessa vez se tocou e saiu sem querer aparecer. Pensou Rosângela.
Passado algum tempo, quando as quatro amigas já estavam quase que em sono profundo, bateu novamente um vento frio no interior do Banheiro. Isso fez Eduarda, que até então tinha se reservado a ouvir os reclames de Rosângela, abrir os lhos. Qual foi seu susto quando junto à porta semi-aberta, viu o vulto de uma senhora toda vestida de branco passar rapidamente. Seu coração disparou e ela pulou rumo ao interruptor da luz. Ao acendê-la, as outras amigas se assustaram e perceberam Eduarda muito pálida e assustada.
-Ai Eduarda o que foi menina? Ta louca pulando desse jeito? Tava tendo pesadelo é? Questionou Marlene.
- Você quer matar agente do coração sua doida, assustando todo mundo desse jeito? Complementou Pipoca.
Enquanto eduarda tentava respirar e recuperar a fala, as amigas estavam já também pegando seu aparente medo.
- Meu Deus! Vocês viram aquela mulher na porta? Quem é ela? Perguntou Eduarda com voz falhando.
- Que mulher. Ai para com isso. Já num basta a Maria arrastando papelão aqui pra assustar agente, inda vem você com esse papo de mulher. Pode parar! Você sabe que eu num gosto desse tipo de brincadeira. Disse Rosângela, já de pé e aparentando medo e desconfiança.
- Juro amigas! Eu vi uma mulher passar na porta quando deu aquele vento frio. Ela tava de branco e olhou pra nós quando passou na porta.
- Ai Jesus amado! O vento eu senti mesmo. Retrucou Pipoca. Mas essa porta ai de fora ta aberta e ta ventando mesmo, pode ter sido o vento que mexeu a porta e você tava sonhando. Você mal deita já ta pregada no sono e até fala enquanto dorme. Acho que você dar delirando amiga. Vamos dormir que ainda temos 20 minutos.
Com as palavras de Pipoca a turma de amigas se acalmou e uma a uma voltaram a deitas-se no chão forrado. Menos Eduarda, que ainda tava incucada, mas agora em dúvida se tinha sonhado ou não. Humm Vai ver que sonhei mesmo, sei lá! Pensou ela. Mas vou sair daqui por via das dúvidas.
- Amigas eu vou lá pra linha ver umas coisas. Querem que eu apague a luz?
- Apaga sua medrosa! Respondeu Pipoca sorrindo.
- Vai pra lá com suas doidices Edu. Completou Marlene.
Eduarda apagou a luz e saiu ainda com seus pensamentos lhe atormentando a mente. Teria sonhado mesmo ou visto aquela mulher de branco. Era sua dúvida. Ah! Vou esquecer isso e cuidar das coisas lá na linha.
Na linha de produção do DVD-345, Eduarda era líder de produção e sempre voltava antes das outras. Mas nesse dia o Rafa da máquina de solda estranhou.
- Ué Edu! Te expulsaram do banheiro hoje foi?
- Nada migo! Eu que vim ver umas coisinhas aqui.
- Ta bom! Sei, sei. Disse Rafa meio que debochando.
Quando Eduarda estava já há uns dez minutos arrumando as coisas na linha, ouviu um grito vindo do rumo do banheiro e no mesmo instante as suas três amigas saírem voando lá de dentro, desesperadas.
- Ai minha Nossa Senhora! Gritava Pipoca
- Eduarda, pelo amor de Deus, diz que foi você que mandou alguém vestir uma blusa branca e aparecer lá no Banheiro pra assustar agente. Perguntou Rosângela quase que obrigando Eduarda a dizer o que ela queria ouvir.
- Olha amigas, agora eu to assustada de verdade. Juro que não sai daqui e nem falei com ninguém, só com o Rafa. Né rafa?
- Sim! Mas ela ta estranha viu. Que vocês estão aprontando heim?
- Olha Eduarda num tem graça viu! Pode parar com isso. E você Rafa, tem algo a ver com isso também é?
- Ah! Sai fora Pipoca. Num sai daqui e desde que a Edu chegou ela também num arredou o pé. Pra lá com a desconfiança, nem sei do que vocês tão falando. Eu heim.
- E se não foram vocês, quem era aquela mulher de branco que apareceu lá no banheiro? Perguntou Rosângela com a cara de quem viu fantasma.
- Olha! Eu falei que vi também essa mulher e vocês acharam que eu tava com estória, lembram?
- Verdade Rose, a Edu viu mesmo. Completou Pipoca.
- Como é que é? Intrometeu-se Rafa. Mulher de branco no banheiro. Hi, já ouvi essa conversa lá na outra empresa que eu trabalhava. Diziam que uma tia que limpava o banheiro tinha morrido de acidente de carro e sempre a parecia à noite pra limpar o mesmo banheiro. Deus que me livre. -Tia é como muitas senhoras que trabalham na limpeza ou na cozinha das fábricas do distrito industrial são carinhosamente chamada por todos-
- Sério Rafa? Perguntou Pipoca. Mas por que essa mulher ia aparecer aqui. Hi Rafa, será que ela ta atrás de você?
- Pra lá sua doida. Falou Rafa já cabreiro com o papo das amigas.
Durante aquela noite o boato se espalhou. Ninguém ia ao banheiro feminino sozinha. No primeiro turno a fofoca aumentou, ao ponto de haver reunião na linha para dizer que aquilo era boato e num tinham nenhuma prova. Porém, o boato já tava espalhado e outras pessoas começavam a contar estórias de aparições no almoxarifado, na manutenção e por ai afora. Havia também pessoas que tinham vindo de outras empresas e contavam casos de aparições semelhantes. Dito pelo não dito, o rumor se espalhou a tal ponto que o banheiro feminino virou objeto de abominação. Qualquer barulho era suficiente para a correria acontecer.
Foi ai que a macharada decidiu pregar, numa certa noite de tempestade manauara, uma peça nas meninas. O Rodrigo do áudio iria se com uma bata branca do pessoal da brigada de emergência e ficaria escondido perto da porta do banheiro. O Rafa tinha combinado com a Jaqueline e ela iria apagar a luz do banheiro na hora acertada, assim, quando Rafa aparecesse o susto seria enorme.
Fazia mais de três semanas que a quatro amigas haviam visto a tal mulher e as coisas já estavam mais tranqüilas. Após a janta elas foram ao banheiro escovar os dentes e junto muitas outras meninas. Quando todas elas estavam lá dentro, o Rafael veio sorrateiramente e escondeu-se por detrás da porta principal, que ficava ao lado da entrada do banheiro feminino. Quando a luz se apagou, ele entendeu que era o sinal. Mal ele se mexeu para aparecer na porta, já ouviu a gritaria e foi atropelado pela mulherada que vinha saindo do banheiro aos berros. Foi uma correria doida. O pobre do Rafa levantou-se e imediatamente correu para tirar a bata e a esconder. Quando ele chegou à produção, a confusão tava feita. Tinha menina sendo abanada. Umas se tremendo. Outras vomitando. Havia choro e muitos comentários sobre a aparição da mulher de branco.
Rafa decidiu nem encostar-se à turma. Achou ele, que só por ter a Jaque apagado a luz, as meninas já saíram correndo mesmo antes de ele aparecer. Agora por que elas estavam afirmando terem visto a mulher de branco, ai nem ele entendia. Podia se a imaginação delas. Pensou ele.
Quando Rafa ia rumo à porta principal, nota que Jaque vinha entrando apressada. Antes mesmo de ele falar algo, ela disse.
- Ai Rafa, me desculpa amigo. Poxa! Fiquei lá no grêmio jogando dominó e num lembrei de nosso trato. E ai como foi. Você assustou elas assim mesmo? Me conta.
Antes mesmo de ela entender o porquê, Rafa caia desmaiado ao chão.
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