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Crônica da Semana - 10 a 17 de Junho de 2007

By Passando a Vida


Levantei e sai apressado rumo ao banheiro. De banho tomado, ligeiramente vesti minha roupa e desci. Enquanto tomava meu café e lia o jornal, minha filha falou algo que não entendi e apenas disse:

- Tá bom filha!

Minha esposa estava calçando o sapato do menorzinho e conversava algo comigo, mas num percebi muito do que se tratava. As notícias lidas ao relance me deixavam a par do que andava acontecendo na cidade e no país. As carreiras levantei da mesa e apressei todos que já era hora de irmos. Entramos no carro, eu minha filha e o meu filho. Liguei o rádio no jornal das sete. Meu filho perguntou:

-Pai o senhor num vai beijar a mamãe?

Baixei o vidro do carro e demos um beijo de estalo e sem sabor algum. Sai da garagem e seguimos rumo a escola. No caminho meus filhos brincavam alegremente no banco de trás e eu os repreendi, pois precisava ouvir as noticias do rádio.

-Mas pai o senhor já num leu o jornal? Perguntou minha filha.

-Já! Mas calem a boca!

Eles aquietaram-se e me olharam pelo retrovisor interno do carro como que pedindo desculpas, mas eu ia interessado nas notícias, não neles.

Deixei-os no colégio e minha filha bateu no vidro para tomar a benção com a mão estendida, abençoei-a e repito o gesto mecânico com meu filho. Sai em disparada rumo ao trabalho. No caminho não percebi como aquele dia estava amanhecendo lindo, com um sol ardente e um céu semi bublado de nuvens alvas que formavam uma aquarela com o sol, de beleza única. Isso iria ouvir mais tarde de uma amiga de faculdade. Cheguei no trabalho as sete e meia como sempre. Estacionei e reclamei comigo mesmo do lugar distante q havia achado vago. Caminhei pelo pátio naquele sol ardente e cheguei na roleta de entrada. O guarda me cumprimentou e apenas balancei a cabeça sem o olhar. No corredor de acesso a minha sala alguém falou comigo e apenas respondi o bom dia como gesto de cordialidade. Meus pensamentos já estavam viajando nos problemas da empresa e apenas roboticamente eu caminhava. Num sei nem que havia falado comigo naquele instante. Cheguei no escritório, destravei o micro e comecei a ler e-mails. Meu Outlook estava abarrotado e sai olhando rapidamente. Pelo nome de quem enviou e o assunto tava prioridade. Deletava umas e separava outras. Algumas, de amigos da faculdade e de outras empresas, infelizmente nem abria, eram em geral mensagem bobas de "tenha um bom dia" ou "reze isso ou aquilo para ter uma boa vida". Bobagem pura, eu pensava. Mandei uns cinqüenta para a lixeira. O que me sobraram eram de problemas já anteriormente tratados, coisas sem solução, e que agente ficava trocando e-mails pra fingir que o plano de ação estava em dia. Iríamos marcar uma próxima reunião para tratar do assunto. Aceitei a reunião e lembrei que já estava atrasado para uma outra naquele instante. Era a primeira da manhã sobre produção. Para avaliar o desempenho do terceiro turno e metade do segundo. Enquanto travava o micro, um colega entrou na sala e falou algo, mas já estava as carreiras para a reunião e apenas disse: Depois, depois!

Saí rumo a sala de reunião e lá chegando, fui questionando do motivo do atraso pelo meu gerente geral, que num sei porque havia aparecido lá antes de mim, coisa que nunca fazia. Disse várias desculpas programadas ao mesmo tempo e acho que ele acreditou em alguma, porque se calou. A reunião teve seu início e como sempre era aquele falatório vazio e sem fim. Mas bom era que ao final tudo iria ser resolvido. Que bom! Pensava eu. Amanha não mais teremos problemas nessa empresa.

Após a reunião sai correndo para outra reunião, desta vez da engenharia de novos produtos. Chego na minha sala e todos já estavam lá se entreolhando e me cumprimentaram ao mesmo tempo. Tocamos a reunião e acertamos que uma equipe minha iria providenciar as máquinas e a linha para fazer o teste piloto deste novo modelo de DVD portátil.

Voltei aos e-mails e o telefone toca. Era um fornecedor que havia me ligado dias antes e eu tinha combinado recebê-lo naquele dia. Droga! Lamentei. Autorizei sua entrada na portaria e o fiquei aguardando, enquanto respondia e-mails e mais e-mails. Ao chegar na minha sala, lembrei do cara. Vendia uns produtos que usávamos e agente tava trabalhando pra reduzir custos com com novos fornecedores. Passei este para um de meus funcionário e desejei um bom dia quase que o expulsando de minha sala.

Poxa! Já são dez horas e ainda não trabalhei, pensava eu. Saio da sala e vou dar uma volta na área de produção. Sou chamado por um colaborador que reclama das ferramentas de corte de uma máquina que não estão atuando corretamente. Lembrei de quando era técnico e em pensamento desejei boa sorte. Mas com palavras disse: veja isso urgentemente, você precisa agilizar isso. E segui em frente. Fui até a área de manutenção e solicitei ao encarregado que mandasse alguém ajudar na máquina para que voltasse a produzir logo, senão afetaria o resultado do turno. Este me disse que já ia verificar quem poderia estar livre aquela altura. Mas adiantou que o rapaz que falara comigo era um tremendo enrolão. Nada de mais pensei, e quem nessa empresa não o é? Ainda assim insisti que solucionasse tudo urgentemente. Chamei o reserva da área e pedi que ficasse de olho e me desse um relatório dessa máquina em meia hora. Pra saber como andava a produção da mesma.

Volto a minha sala e recomeço a ler e-mails, que nessa altura já eram os do dia corrente. Droga! Praguejei. O sistema caíra. Liguei para a sala de help desk de informática e descobri que era geral. O link da Embratel tinha entrado em colapso. Previsão de volta em meia hora, ele me disse. Nessa meia hora fui para o telefone e falei com um e outro colaborador sobre a situação colocada antes na reunião, para ter mais detalhes e coordenar as ações propostas. Opa! O sistema voltou! Li mais alguns e-mails. Respondi alguns. Um, de meu gerente de engenharia, me convidava pra comer um pirarucu a milanesa lá no El Toro Loco. Agradeci na resposta e disse que infelizmente não daria hoje. Outro me convidava para uma reunião "rapidinha" sobre um assunto que dizia ser muito importante minha participação. Tento despistá-lo na resposta, mas meu gerente entra na sala e ao ler, achou que era melhor eu ir. Diante da situação, lá ia eu para outra reunião. Nessa ouço todos falarem durante uma hora sobre um time de ação para reduzir os scraps e material de banheiro e escritório. Boa idéia pensei. Mas já não tiveram esta mesma idéia no ano passado? E Ano retrasado? Deixa pra lá. Como ninguém perguntou o que eu achava daquilo, fiquei quieto. Me questionei de minha importância naquela reunião, lida no e-mail convite. E achei que alguém havia me confundido com outrem. Dei um sorriso interior e ao fim retornei a minha mesa.

Droga! Lembrei das mensagens da secretaria eletrônica do telefone via IP e a acionei. nada de interessante ns primeira vinte mensagens. Na vigésima primeira uma amiga pedindo que eu ligasse para ela e termino ouvindo entre um sorriso ele dizer que eu estou mais difícil que o Lula. Ironia dela, só pode! Pensei. Mas recordo que ultimamente tenho ouvido muito isso dos amigos, fornecedores, colegas e até mesmo de gente ali do escritório. Acho que tudo é momento. Não sabem como tenho preocupações e num posso ficar perdendo tempo com bobagens, como eles. Mas acho que logo eles entenderão isso.

A última mensagem era de outra amiga dos tempo de faculdade, muito apegada a mim, e que entre outras coisas me perguntava se eu havia percebido o dia lindo que havia amanhecido hoje. Lembrei de meus filhos brincando no carro pela manhã. É, pensei. Acho que não percebi não. Sou interrompido pelo colega da sala ao lado que me convida para irmos almoçar. Mais uma vez dei uma desculpa e disse q não dava porque ainda tinha muito a fazer antes das treze. A tarde ainda tinha que visitar alguns clientes e checar como andava nossa qualidade no campo. Meu celular toca e é minha esposa dizendo que as quinze tem uma reunião na escola dos meninos e que eu preciso ir. Lembro que nunca fui numa dessas reuniões, apesar de fazer cinco anos que eles estudam lá. Digo que infelizmente não vai dar. Ela lamenta e me deseja boa tarde e um beijo. Saio correndo rumo ao refeitório da empresa e vou comer sozinho e apressado. Minha tarde se aproxima e ainda preciso de mais tempo para muitas coisas importantes.
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http://www.xicobranco.com.br/3482/index.html

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